Lembras-te?



Não quero mais dormir! Não, se a dormir sonho contigo. Não, se enquanto durmo tu vives no mais profundo do meu inconsciente possuindo uma força suprema sobre ele. Não quero dormir! Quero ficar acordada! “Não adormeças! Não feches os olhos! Mantêm-te acordada! Sabes bem que não queres sonhar com ele. Ou será que queres?”
Sempre que voltas trazes contigo demasiadas recordações e um turbilhão de emoções que causam o caos na minha vida e no meu subconsciente. E voltas sem nunca ter intenção de ficar. Tu voltas, voltas sempre, porque sempre voltamos às nossas origens e eu sou parte das tuas origens. Mas voltas apenas para que te console, para que satisfaça o mais recôndito desejo que ainda nutres por mim. Nunca voltas por mim, nem para mim. Voltas por ti, só por ti. E logo te vais quando te voltas a achar muitíssimo apaixonado. Nunca o estás, sabes?
Não quero dormir! Mas de que me serve este esforço para não adormecer, se agora mesmo acordada, estou a pensar em ti e não consigo parar de o fazer?
As recordações pairam no meu subconsciente como uma nuvem negra que anuncia chuva. (Começou a chover!) Chovem torrencialmente lembranças de um «nós» já longínquo. Aqui, sentada aos pés da cama, recordo os nossos melhores momentos. Tu eras tão meu e eu era tão tua naqueles momentos.
Lembras-te do nosso primeiro beijo? Sim, aquele que estava carregado de vergonha e ansiedade. Sim, aquele que pareceu de novela. Sim, aquele em que para me calares me puxaste para bem junto do teu corpo e colaste os teus lábios aos meus por breves instantes para logo depois me prenderes num abraço super amoroso e me sussurrares ao ouvido uma única palavra, com a tua voz doce de menino, um único sentimento, enquanto eu emanava o calor do teu corpo e respirava o perfume da tua pele, tão quente, mesmo com o frio de Outono que já se começava a fazer sentir. Lembras-te de tudo isto? Tens que te lembrar! Foi o nosso primeiro beijo. O primeiro de muitos que pareceram tão poucos… Lembras-te?
As recordações continuam a surgir. Parece que a chuva veio para ficar e a nuvem vem carregada e bem preparada para uma tempestade.
Lembras-te daquela nossa tarde? Esta sim, eu sei que te lembras. Independentemente do motivo pelo qual te lembras, eu sei que te lembras bem. Aquela tarde foi o nosso auge, foi o ponto alto do nosso (amor?) relacionamento. Aquela tarde teve amor, digas o que disseres, aquela tarde teve amor! Foi tudo o que sentiste naquela tarde que te assustou, não foi?
Lembras-te do calor dos nossos corpos entrelaçados como dois amantes apaixonados? As horas passavam lá fora contudo, para nós, as horas pareciam paradas, o resto do mundo parecia algo inexistente dentro daquelas quatro paredes, enquanto me olhavas daquela forma cheia de carinho e desejo. Lembras-te do arrepio por todo o corpo que se fazia sentir a cada vez que a nossa pele se tocava, num toque puro e suave, a cada vez que as nossas vozes roucas se faziam ouvir naquele quase profundo silêncio? Lembras-te das borboletas que voavam na minha barriga cada vez que os nossos lábios se juntavam num beijo ora calmo, ora louco? Também as sentias? Lembras-te do nosso beijo de despedida, o último beijo daquela tarde, o último beijo da nossa história? A chuva caia forte lá fora e nós beijávamo-nos, uma última vez, alheios ao mundo, enquanto os vizinhos nos espiavam pela porta entreaberta e quase podiam sentir a saudade que nós já começávamos a sentir. Lembras-te? Diz-me que te lembras.
Um dia quis fazer-te acreditar que aquela tarde não tinha sido especial por orgulho de admitir a verdade. Foi especial sim, foi a nossa tarde e será sempre a nossa tarde, apenas nossa.
Lembras-te dos medos que tivemos que ultrapassar juntos? Lembras-te do que aprendemos um sobre o outro? Lembras-te que sei mais sobre ti e te conheço melhor que quase toda a gente? Conheço de cor as tuas expressões faciais, o teu sorriso, o teu olhar. Conheço de cor os teus medos, os monstros que te atormentam a cada segundo. Conheço de cor as tuas fraquezas e as tuas fragilidades. Conheço de cor muitos dos teus desejos, dos teus sonhos, dos teus projectos futuros. Conheço de cor até cada traço do teu corpo bem feito. Lembras-te?
A nossa história não era perfeita. Na verdade, tinha algumas incongruências bastante grandes e ainda vivíamos no meio de mentiras. Mas tinha sentimento! Tinha o carinho, a ternura e a cumplicidade de uma verdadeira história de amor e tinha a paixão, o desejo e a sensualidade de dois amantes apaixonados. Sabes, para mim chegava. Eu era feliz assim. Sim, era mesmo feliz assim. Acordar de manhã sabendo que gostavas de mim, que me desejavas, que iria sentir a ternura dos teus lábios e o calor da tua pele uma vez mais, eram os meus motivos de júbilo. Não precisava de nada mais, apenas queria que fosses meu, como eu era tua.
E um dia, tudo acabou… Lembras-te dessa noite? Tu falavas e tentavas arranjar mil e um motivos para a nossa separação, tentavas encontrar uma forma de tornar as coisas mais fáceis. Encontras-te? Sabes que não encontraste porque nem tu acreditavas nas tuas próprias palavras. E sabes porquê? Porque tu, tal como eu não querias seguir aquele caminho, sem mim, sem nós. Enquanto te esforçavas por me fazer compreender-te eu pouco te escutava, contudo procurava com todas as minhas forças respirar todo o perfume que se libertava dos teus poros para poder guardá-lo para sempre na minha memória, pois eu sabia que não voltarias atrás na tua decisão. Naquela noite não tive vontade de chorar, não tive vontade de berrar e implorar aos ventos que te trouxessem de volta, não tive vontade de te mostrar os imensos contra argumentos que tinha para a tua decisão. Pelo contrário, naquela noite tudo foi calmo, tudo foi silencioso e até algo terno. Despediste-te de mim, beijando-me a face com carinho como se de uma despedida dolorosa se tratasse. E tratava-se. E partiste, olhando de relance para trás como se quisesses recordar o meu rosto que permanecia ali calmo, fixando-te, sem lágrimas. A minha única vontade naquela noite era correr atrás de ti, abraçar-te, dizendo-te ao ouvido que tudo iria ficar bem, só precisávamos de nós. E beijar-te com todo o amor e carinho que sempre te dei e talvez, talvez assim ficasses. Ficavas?
Lembras-te dos nossos momentos? Lembras-te das nossas birras? Lembras-te dos nossos risos e sorrisos? Lembras-te das nossas tristezas e das nossas lágrimas? Lembras-te dos nossos sonhos e das nossas promessas? Lembras-te dos nossos segredos? Lembras-te de mim? Lembras-te do meu perfume? Lembras-te de nós? Lembras-te da nossa história que se perdeu no fio do tempo? Lembras-te?! Então não te esqueças. Por favor, nunca esqueças.
Quero dormir, mas não quero mais sonhar contigo. Quero dormir sem ti no meu subconsciente. Não quero sonhar contigo enquanto tu sonhas com ela(s). “Dorme! Dorme! Dorme! Afasta a nuvem, põe-te debaixo do teu coberto. Sim, aquele que ele te mostrou como funciona. Dorme! Dorme!”. É a voz do meu subconsciente, vou obedecer. Fechei os olhos e tu desta vez perdeste a batalha. Boa noite!

«Não deites fora as recordações!»

eu não vou deitar as minhas, por isso, nada melhor do que escrever.

9 comentários:

  1. Bem. Sabes como sou frontal. Primeiro, devo dizer que este foi de certeza o melhor texto que tu alguma vez escreveste. E talvez o mais sincero e mais cheio de sentimento (não excluindo o meu - M*). Depois, se este texto te fez ficar livre de todos os fantasmas que pairavam sobre ti então fico extremamente feliz. Se não, então continua a escrever porque de certeza que os vais espantar. Sei que sou um bocado besta às vezes mas sempre quis o teu bem apesar de tudo.
    GMDT minha Belhinha. x)

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  2. Sem dúvida um dos melhores textos, o mais sincero de todos.

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  3. muito obrigada Mafalda e Marta, mas acho que nenhuma de vocês acertou na pessoa por detrás das recordações :b

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  4. Vou-te ser muito sincera, Sara. Não sei bem o que dizer a isto.

    Mas qualquer um pode ver que é um texto cheio de sentimento. E acho que isso o torna tão mais real, tão mais sentido, tão mais bem escrito e com um enorme valor.

    Acho que é por isso que as M's ali em cima disseram que era um dos melhores e mais sinceros textos.

    Continuo a gostar imenso das imagens que escolhes para este blog.

    Gostei principalmente da parte final: "Fechei os olhos e tu desta vez perdeste a batalha. Boa noite!"

    Beijinho**

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  5. Poderás dizer quem é?? Ou serão todos aqueles que tiveram lugar no teu <3??

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  6. muito obrigada pelas palavras Dina (:
    ainda bem que também gostaste. e quanto a ti Mafalda, não sei, depois de ler isto repetidas vezes já não sei o que dizer sobre isto. Também não importa, o que importa é que tem arte (;

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  7. Que tem arte, tem. (Mas não sejas convencida xD).

    Eu continuo a ter as minhas convicções. Tu, tens as tuas. E quanto a isso só nos resta respeitar e continuar a ser amigas.

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  8. basicamente isto foi uma forma fofinha e riquinha e artististica, logo um pouco ficcionada, de descrever uma história que vivi e de virar essa página, de me despedir por assim dizer. Mas como não é quem tu pensas, só resta outra pessoa ;b

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