Querido coração,

por favor, aceita que a vida não é justa, muitas pessoas não são justas e, no seu geral, o Mundo não é justo e isso não vai mudar. Já agora, aceita, por favor, que não te podes fechar assim quando te feram tão gravemente porque não estás sozinho e não te consegues curar sozinho. Aceita também, que por muito que tentes fazer as coisas certas, que por muito que tentes ser o mais perfeito e bondoso possível, haverá sempre alguém pronto para te provocar danos. Por isso, mantém-te atento, and...

do you know how many fucking times i've cried for you?



Vocês não gostam daquelas familias que são o autêntico esteriótipo de uma familia feliz? Eu gosto. Mas, do que eu gosto mesmo, é do facto de a minha parecer uma dessas famílias aos olhos dos outros. Contudo, parecer e ser são coisas distintas e, como as aparências iludem, a minha familia está longe, muito, muito longe de ser feliz. Ou melhor, eu é que estou muito longe de algum dia ser feliz aqui, com eles, e fazer verdadeiramente parte desta "familia".
Por isso, caro pai, cara mãe, caro irmão, por favor, DEIXEM-ME EM PAZ !

that's it (:



"Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio da multidão. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campainha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém - e estou a falar para os que gostam -, vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estarmos juntos, porque nada nem ninguém é mais importante que nós."

Fernando Alvim

Laços



Sabes, às vezes, tenho uma certa vontade, um certo desejo de me desprender de ti. Naqueles momentos em que estou mais irritada, contigo ou com o mundo, naqueles momentos em que me sinto injustiçada, naqueles momentos aborrecidos em que nada temos de novo para dizer um outro. Apetece-me. Não por completo. Não a termo definitivo. Apenas largar-te a mão, isolar-me no mais profundo silêncio, ficar aborrecida, chateada, até mesmo amuada. Por algumas horas, alguns dias. Provocar-te. Provocar-me. Esticar até aos limites a corda da nossa relação. Saber se correrias atrás de mim, se esperarias por mim, se chorarias por mim. Ou então, se te encherias de orgulho e seguirias com a tua vida sem mim.
Eu sei, sim, eu sei que o medo é o maior inimigo de um amor pleno e duradouro. Contudo, também sei que é um sentimento que está inevitavelmente colado a cada ser humano. Eu tenho medo. Por vezes, raras, é certo, eu ainda tenho medo. Medo de te perder. Medo que isto não resulte. Medo que o passado se repita. Como costumam dizer, ainda tenho fantasmas no sótão. São queridos, simpáticos, até deliciosos, na sua maioria. No entanto, alguns são mauzinhos e traiçoeiros. Esperam numa atenta vigília pela melhor altura para actuar. E quando menos espero, puff, surpreendem-me. Mal-educados. Não sabem manter-se no seu lugar. E depois vão-se, como se de uma brincadeira de miúdos se tratasse.
Em algumas ocasiões penso como seria ser livre outra vez. Só depender de mim. Não ter medo de te perder por simplesmente não te ter. Voar. Livre. Solta. Sozinha.
Mas, depois penso e reflicto. Alguma vez fui livre de ti? Alguma vez, desde que nos unimos, há já alguns anos atrás, soube viver sem ti? Fui feliz sem a tua presença? (Os fantasmas estão à espreita, tenho que me manter atenta) Não. A resposta é não. Definitivamente, sem qualquer espaço para dúvidas, não.
Provocas em mim um turbilhão de emoções que mais ninguém consegue provocar. Tanto és como um pequeno rio, que corre calmo e feliz pela minha vida. Como um furacão tempestuoso que me vira a vida de pernas para o ar.
Posso até, um dia, largar-te a mão, chatear-me, espernear, ter vontade de te bater e de te insultar. Posso até, um dia, quem sabe, afastar-me de ti por alguns momentos. Mas… Existe sempre um mas. Mas, nada disso vai fazer com que te solte totalmente. Pois o que nos une, não são mãos, não são dias, não são horas, não é o corpo. São laços. Laços invisíveis, mas fortes, duros, inquebráveis. Laços que se fortaleceram com o tempo, com os actos, com a amizade e com o amor. Laços esses que não vou pedir para me devolveres porque já nem eu sei como os fazer soltarem-se de ti, de mim. Laços de um amor pujante, robusto, incalculável, enriquecido por cada momento partilhado, incondicional. Laços que me fazem não conseguir largar-te a mão, mesmo quando a mão dada não significa a paz total na nossa relação. Afinal, qual grande amor não tem o seu drama e a sua frustração?



"Se eu pudesse, agarrava-te todos os dias nos meus braços, cantava-te músicas de embalar até fechares os olhos, lia-te histórias e inventava-lhes o fim, deitava-te nos meus braços e esperava que adormecesses, entrava nos teus sonhos e pintava-os de cores e sons perfeitos, depois acordava-te ainda cedo, devagar, abria três dedos da persiana, punha o John Cale ao piano, pegava-te nas mãos até acordares, trazia-te o pequeno almoço à cama, corn flakes e uma maçã verde, dançávamos como sempre fazemos, depois punha o banho a correr e ficava quieta, à espera que começasses o teu dia ao meu lado, sereno, seguro, tranquilo, pacificado contigo e com o mundo.
Se eu pudesse, plantava ramos de alfazema mágicos que cresciam até ao fim do dia, apanhava-os e espalhava-os pela casa e desfazia folhas nas gavetas, pendurava os quadros que não sabes onde pôr, lia os teus livros e escrevia-te cartas de amor, depois sentava-me no sofá a olhar lá para fora e a pensar que não há nada melhor na vida do que amar...
Se eu pudesse, os comboios andavam mais depressa, os aviões não faziam barulho, não havia portagens e as auto-estradas eram automáticas, eu punha um carro numa faixa e a estrada andava sozinha, chegava aí num instante, tinha tempo para estar e regressar, ou então metia-te num avião e levava-te para um lugar onde nunca fomos, tu ias de olhos vendados e tampões nos ouvidos, não sabias nada mas confiavas em tudo, então chegávamos a um canto sossegado, perdido dos homens e do mundo, deitava-te em cima de uma cama enorme e branca e amava-te durante horas e sem tempo, até adormeceres outra vez nos meus braços. E de olhos fechados, podias imaginar a vida que sonhas mas ainda não conheces, podias ver o futuro a passar-te à frente, fazias as pazes com o teu passado e percebias que podemos ter aquilo que sempre quisemos, que nada é impossível quando o que queremos é verdade e está certo. (...)
Se eu pudesse, levava-te agora para casa, sentávamo-nos à lareira a conversar, explicava-te porque é que um dia reparei que existias e sem querer me esqueci do meu coração entre os teus dedos..."

Margarida Rebelo Pinto


"É carinho, é paixão, é algo verdadeiramente sentido, é quase musical, é realmente amor (:"