Laços



Sabes, às vezes, tenho uma certa vontade, um certo desejo de me desprender de ti. Naqueles momentos em que estou mais irritada, contigo ou com o mundo, naqueles momentos em que me sinto injustiçada, naqueles momentos aborrecidos em que nada temos de novo para dizer um outro. Apetece-me. Não por completo. Não a termo definitivo. Apenas largar-te a mão, isolar-me no mais profundo silêncio, ficar aborrecida, chateada, até mesmo amuada. Por algumas horas, alguns dias. Provocar-te. Provocar-me. Esticar até aos limites a corda da nossa relação. Saber se correrias atrás de mim, se esperarias por mim, se chorarias por mim. Ou então, se te encherias de orgulho e seguirias com a tua vida sem mim.
Eu sei, sim, eu sei que o medo é o maior inimigo de um amor pleno e duradouro. Contudo, também sei que é um sentimento que está inevitavelmente colado a cada ser humano. Eu tenho medo. Por vezes, raras, é certo, eu ainda tenho medo. Medo de te perder. Medo que isto não resulte. Medo que o passado se repita. Como costumam dizer, ainda tenho fantasmas no sótão. São queridos, simpáticos, até deliciosos, na sua maioria. No entanto, alguns são mauzinhos e traiçoeiros. Esperam numa atenta vigília pela melhor altura para actuar. E quando menos espero, puff, surpreendem-me. Mal-educados. Não sabem manter-se no seu lugar. E depois vão-se, como se de uma brincadeira de miúdos se tratasse.
Em algumas ocasiões penso como seria ser livre outra vez. Só depender de mim. Não ter medo de te perder por simplesmente não te ter. Voar. Livre. Solta. Sozinha.
Mas, depois penso e reflicto. Alguma vez fui livre de ti? Alguma vez, desde que nos unimos, há já alguns anos atrás, soube viver sem ti? Fui feliz sem a tua presença? (Os fantasmas estão à espreita, tenho que me manter atenta) Não. A resposta é não. Definitivamente, sem qualquer espaço para dúvidas, não.
Provocas em mim um turbilhão de emoções que mais ninguém consegue provocar. Tanto és como um pequeno rio, que corre calmo e feliz pela minha vida. Como um furacão tempestuoso que me vira a vida de pernas para o ar.
Posso até, um dia, largar-te a mão, chatear-me, espernear, ter vontade de te bater e de te insultar. Posso até, um dia, quem sabe, afastar-me de ti por alguns momentos. Mas… Existe sempre um mas. Mas, nada disso vai fazer com que te solte totalmente. Pois o que nos une, não são mãos, não são dias, não são horas, não é o corpo. São laços. Laços invisíveis, mas fortes, duros, inquebráveis. Laços que se fortaleceram com o tempo, com os actos, com a amizade e com o amor. Laços esses que não vou pedir para me devolveres porque já nem eu sei como os fazer soltarem-se de ti, de mim. Laços de um amor pujante, robusto, incalculável, enriquecido por cada momento partilhado, incondicional. Laços que me fazem não conseguir largar-te a mão, mesmo quando a mão dada não significa a paz total na nossa relação. Afinal, qual grande amor não tem o seu drama e a sua frustração?

7 comentários:

  1. Está completamente LINDO ! Acho que é o teu melhor texto :) Juro que amei. Escritora linda :)

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  2. Obrigada, ainda bem que gostaste (:
    e não sou nada linda :b ahahah

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  3. E o teu mais que tudo também deve ter gostado muito :)
    Pois não, és muito feia sua tola :)

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  4. Meu mais que tudo? (x
    Nem por isso xD foi um bocadinho dificil para ele entender esta parte estranha da mente feminina (x ahahah

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  5. É, eles nunca percebem :) Mas eu entendi e adorei :)

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  6. oh, não me posso queixar de falta de entendimento (: Simplesmente achou estranho o desejo de me "desprender" dele.
    tive um laivo de inspiração (x

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  7. Sim, é normal. Ahahah, foi isso xD

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