crazy little thing called love !

«Neste momento têm uma história de amor que causa inveja a muita gente, que sobrevive a muito, ultrapassa tudo e todos e que continua sempre a crescer incondicionalmente. Têm algo especial, que devem cuidar bem. São o motivo para outras pessoas acreditarem no "ser feliz para sempre", são aquilo que muitos desejam e não encontram. São o "tudo" um do outro, aquilo que os faz mover e contagia o Mundo que os rodeia.»

come back !



Detesto esta estúpida sensação de abandono, de vazio. Inevitavelmente, ver alguém a fazer as malas deixa sempre no ar essa sensação de desprendimento, de um adeus proeminente. Eu senti isso, mesmo sabendo que nada tinha de abandono, muito menos de adeus. O simples facto de te ires embora, de juntares as tuas coisas na mochila, de ajudar-te a dobrar a tua roupa, encharcada no teu perfume já me deixava um vazio no peito. De qualquer das maneiras, eu sei que são só dois dias até voltar a estar nos teus braços. Mas, nada se iguala ao nosso sonho aveirense. Nada, realmente.
Estes dias contigo foram sublimes, maravilhosos, um verdadeiro conto de fadas.O nosso conto de fadas. Por isso, volta meu principe porque o nosso castelo torna-se aborrecido e triste sem ti e a nossa cama só é verdadeiramente apetecível quando cá estás.
Volta, rápido ! Tenho sono, quero dormir, preciso do aconchego do teu abraço. Volta, o mais rápido possível, amor da minha vida.

Acreditem, nunca gostei tanto do regresso às aulas.
Home, sweet home !

Realmente, Portugal às vezes parece anedota

"Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou um andar em Carnaxide.

Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um problema. Era em Carnaxide.
Nunca mais ninguém o viu.
Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como Carnide e Moscavide. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em Massamá, Brandoa, Cumeada, Agualva-Cacém, Abuxarda, Alformelos, Murtosa, Angeja. ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.
Para não falar na Cova da Piedade, na Coina, no Fogueteiro e na Cruz de Pau. (...)
Ao ler os nomes de alguns sítios - Penedo, Magoito, Porrais, Venda das Raparigas, compreende-se porque é que Portugal não está preparado para entrar na Europa.
De facto, com sítios chamados Finca Joelhos (concelho de Avis) e Deixa o Resto (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai querer integrar?
Compreende-se logo que o trauma de viver na Damaia ou na Reboleira não é nada comparado com certos nomes portugueses.
Imagine-se o impacto de dizer "Eu sou da Margalha" (Gavião) no meio de um jantar.
Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E a menina de onde é?", e a menina diz: "Eu sou da Fonte da Rata" (Espinho).
E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde mora, presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita na Herdade da Chouriça (Estremoz).
É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda, logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de Vergão Fundeiro?
Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece o nome de uma versão transmontana do Garganta Funda.
Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma Vergadela (em Braga), mas com duas, contando com a Vergadela de Santo Tirso ? Será ou não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma Vergadelas?
É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
Ninguém é do Porto ou de Lisboa.
Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer mentir.
Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de naturalidade que reze Fonte do Bebe e Vai-te (Oliveira do Bairro).
É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como sendo originário de Filha Boa.
Verá que não é bem atendido. (...) Não há limites. Há até um lugar chamado Cabrão, no concelho de Ponte de Lima !!!
Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai Mais um Rissol. (...)
Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um percurso que vá da Fome Aguda à Carne Assada (Sintra) passando pelo Corte Pão e Água (Mértola), sem passar por Poriço (Vila Verde), e acabando a comprar rebuçados em Bombom do Bogadouro (Amarante), depois de ter parado para fazer um chichi em Alçaperna (Lousã)."

Miguel Esteves Cardoso
"Diz-me onde moras"

Gostar ou não gostar, eis a questão - IV

Gosto dos pontões e dos faróis e de me sentar lá a olhar para o mar, a ouvir música e a reflectir. Gosto de ir à piscina à noite. Gosto de me deitar na relva a ver as estrelas, sozinha. Gosto do cheiro a relva cortada. Gostava de saber fazer surf ou bodyboard. Gosto de trabalhar para o bronze mas não gosto de estar muito tempo deitada ao sol sem fazer nada. Gosto de pensar no que gosto e no que não gosto, mas dá trabalho. Gosto das minhas cortinas. Gosto da sala dele. Gosto da minha televisão da sala. Não gosto de tralhas. Gostava de me conseguir lembrar o que tinha em mente escrever ainda agora. Gosto de embirrar com ele. Gosto de passear de mão dada. Gosto da Rua de Santa Catarina e gosto do homem dos balões que diz aquelas coisas parvas. Gosto de saldos. Gosto da minha Simone. Gosto dos post-its do meu quarto em Aveiro. Gosto de bacalhau, de todas as maneiras. Gosto de amar e de ser amada. Gosto de o beijar e do sabor que ele deixa nos meus lábios. Gosto de comer furta acabada de cortar da árvore. Gosto de animais e de ir à loja dos animais. Mas, não gosto de galinhas, nem de aranhas, nem de abelhas. Não gosto de não ter mensagens. Não gosto de não ter dinheiro. Nem gosto de mudanças. Gosto de franjas, é pena darem muito trabalho. Gosto de passear pelo meu terreno. Gosto de ouvir uma palavra com cinco letras e um hífen quando sai da boca dele. Gosto da nossa cumplicidade. Gosto que possamos falar sobre tudo. Gosto do facto de este texto ficar em aberto e um dia mais tarde poder completá-lo. Gosto quando ele goza comigo por ser sentimental e me emocionar, mas gosto ainda mais do facto de saber que ele até acha isso fofinho. Gosto que o meu afilhado o chama Yó e gosto que ele diga que toda a gente é tutó, até mesmo ele. Eu não gosto que não respeitem a privacidade do meu quarto. Não gosto quando o meu irmão entra no meu quarto sem sequer bater à porta. Eu gosto de colher pimentos, por muito estúpido que isso pareça. Eu gostava muito de ter uma relação melhor com a minha família. Eu gosto de chocolate, mas não gosto daqueles chocolates que vêm com o café. Eu detesto café. Detesto passar noites em branco. Detesto ter insónias. Não gosto de ter medo. Não gosto de falsidades. Gosto de tomar duche e de ouvir música enquanto o faço. Gosto de estar deitada sozinha no escuro. Gosto da luz que a chama das velas dão. Gostava de ter os dentes direitos. Gosto de escrever no teclado do meu portátil. Gosto de guardar as boas memórias. Gosto de Aver-o-mar por tudo o que significa. Gostava de ter um quarto melhor em Aveiro. Gosto da Ponte D. Luis à noite. Gosto de fado. Não gosto de rancho, mas gosto que se conservem os costumes e as tradições. Não gosto de ouvir falar alemão, mas gosto de ouvir falar espanhol. Gosto de saber falar pelo menos umas palavras em várias línguas. Gostava de saber linguagem gestual. Gosto da mania parva que eu e o meu namorado partilhamos de fazermos limpeza facial um ao outro. Gosto da cara dele ao acordar e do cabelo despenteado. Não gosto de ter que sair da cama. Não gosto de lavar os dentes. Não gosto de oferecidas. Não gosto de rapazes que se acham altos machos latinos. Não gosto de gente que tem a mania que é mais do que na verdade é e que manda sempre tanto ou mais do que os outros quando não manda nada. Eu gosto das pessoas que percebem o seu lugar. Gosto de dedicação e de bom trabalho. Não gosto quando caiu. Gosto de me rir como uma perdida quando caiu num tombo espalhafatoso e quase de filme de comédia. Eu gosto de massajar e de mexer no cabelo dele. Eu gostava do tempo em que tinha duas irmãs gémeas. Eu não gosto, nada, de agora não ter nenhuma. Contudo, gosto de pensar que ainda consigo recuperar algum do tempo perdido com uma. Eu não gosto que faltem ao prometido. Eu gosto de me considerar uma mulher com “tomates”. Por isso, não gosto nada quando me sinto frágil e fraca. Eu gosto de brincar. Gosto de estar na minha piscina. Gosto de ir à piscina à noite.
- Prometo que me vou esforçar por te dar todo o meu amor e carinho.
- O que é bem mais importante do que me darem comida e cama lavada.
- Eu sei que sim.

Gostar ou não gostar, eis a questão - III

Gosto de vestidos e de saltos altos. Gosto da pessoa que inventou os saltos compensados, apesar de não a conhecer. Não gosto de futilidades. Não gosto nem um bocado de pessoas que se acham superiores. Não gosto que traiam a minha confiança. Gosto de confiar nas pessoas, apesar de me custar confiar em alguém. Gosto de compal de pêssego. Gosto de batatas fritas do Mac Donalds. Gosto de gelados mas gosto ainda mais de cuidar da minha voz e da minha garganta. Gosto de correr e não gosto de ter preguiça. Não gosto da trovoada, mas gosto de fotos de relâmpagos. Não gostem que me controlem cada passo. Não gosto de ter pais demasiados controladores e conservadores. Não gosto que o meu irmão ainda tenha a mentalidade de uma criança apesar dos seus 15 anos. Gosto que o meu namorado me dê atenção. Não gosto de chorar e não gosto que me vejam chorar. Não gosto de me sentir magoada e indefesa e não gosto nada de me fechar só para mim quando estou assim. Gostava de ter uma melhor amiga. Gosto de ouvir música quando estou no duche. Gosto de correr riscos. Não gosto quando quase sou apanhada. Gosto de mandar mensagens. Gosto de ter internet. Não gosto que ela acabe rápido. Gosto da voz dele a soar ao meu ouvido. Odeio quando me apetece desaparecer. Não gosto que a minha mãe esteja sempre em casa, nem que ela esteja assim doente. Não gosto de ver a minha avó assim. Não gosto nada de todos estes dramas familiares. Não gosto de discutir com o meu namorado mas gosto de fazer as pazes. Não gosto que a mãe dele não nos leve muito a sério, apesar de a perceber. Gosto do pai dele porque é simpático comigo. Gosto de crianças, mas não gosto de crianças mimadas. Gosto de imaginar um futuro com ele. Gostava de um dia ser mãe. Gostava de casar por civil e na igreja. Gostava de morar junto antes de casar. Não gosto da ideia de casar na igreja matriz da minha freguesia. Gosto de solos de guitarra. Gosto da pele morena. Gosto de olhos verdes e de olhos escuros. Não gosto de clichés. Até gosto de ironias. Não gosto de mortes, nem de funerais. Gosto de comer pipocas no cinema e gosto do facto de os filmes se verem às escuras. Não gosto de tabaco, nem do fumo, nem do cheiro. Não gosto de pessoas más. Não gosto de pessoas irresponsáveis. Gosto de sair com os meus amigos. Gosto de conviver na praça, apesar de não gostar da praça. Gosto das músicas que tocam no Posto 7. Gosto de comer amendoins enquanto convivo com os meus amigos à noite. Gosto que me paguem as bebidas. Gosto que me surpreendam. Gosto de receber prendas. Gosto de anéis e de fios. Gosto de ter muitas pulseiras no braço esquerdo. Gosto de andar com o relógio que o Zé me deu, no entanto, raramente, me lembro de ver as horas por lá. Não gosto quando ele é teimoso. Detesto quando o magoo-o e o faço chorar. Não gosto das ideias ridículas de que os homens não choram, de que só os maricas é que cuidam de si e de que os homens não podem ajudar nas tarefas domésticas. Não gosto de homens machistas, mas gosto ainda menos de mulheres machistas. Gostei muito de estagiar na CERCI.