Gostar ou não gostar, eis a questão - IV

Gosto dos pontões e dos faróis e de me sentar lá a olhar para o mar, a ouvir música e a reflectir. Gosto de ir à piscina à noite. Gosto de me deitar na relva a ver as estrelas, sozinha. Gosto do cheiro a relva cortada. Gostava de saber fazer surf ou bodyboard. Gosto de trabalhar para o bronze mas não gosto de estar muito tempo deitada ao sol sem fazer nada. Gosto de pensar no que gosto e no que não gosto, mas dá trabalho. Gosto das minhas cortinas. Gosto da sala dele. Gosto da minha televisão da sala. Não gosto de tralhas. Gostava de me conseguir lembrar o que tinha em mente escrever ainda agora. Gosto de embirrar com ele. Gosto de passear de mão dada. Gosto da Rua de Santa Catarina e gosto do homem dos balões que diz aquelas coisas parvas. Gosto de saldos. Gosto da minha Simone. Gosto dos post-its do meu quarto em Aveiro. Gosto de bacalhau, de todas as maneiras. Gosto de amar e de ser amada. Gosto de o beijar e do sabor que ele deixa nos meus lábios. Gosto de comer furta acabada de cortar da árvore. Gosto de animais e de ir à loja dos animais. Mas, não gosto de galinhas, nem de aranhas, nem de abelhas. Não gosto de não ter mensagens. Não gosto de não ter dinheiro. Nem gosto de mudanças. Gosto de franjas, é pena darem muito trabalho. Gosto de passear pelo meu terreno. Gosto de ouvir uma palavra com cinco letras e um hífen quando sai da boca dele. Gosto da nossa cumplicidade. Gosto que possamos falar sobre tudo. Gosto do facto de este texto ficar em aberto e um dia mais tarde poder completá-lo. Gosto quando ele goza comigo por ser sentimental e me emocionar, mas gosto ainda mais do facto de saber que ele até acha isso fofinho. Gosto que o meu afilhado o chama Yó e gosto que ele diga que toda a gente é tutó, até mesmo ele. Eu não gosto que não respeitem a privacidade do meu quarto. Não gosto quando o meu irmão entra no meu quarto sem sequer bater à porta. Eu gosto de colher pimentos, por muito estúpido que isso pareça. Eu gostava muito de ter uma relação melhor com a minha família. Eu gosto de chocolate, mas não gosto daqueles chocolates que vêm com o café. Eu detesto café. Detesto passar noites em branco. Detesto ter insónias. Não gosto de ter medo. Não gosto de falsidades. Gosto de tomar duche e de ouvir música enquanto o faço. Gosto de estar deitada sozinha no escuro. Gosto da luz que a chama das velas dão. Gostava de ter os dentes direitos. Gosto de escrever no teclado do meu portátil. Gosto de guardar as boas memórias. Gosto de Aver-o-mar por tudo o que significa. Gostava de ter um quarto melhor em Aveiro. Gosto da Ponte D. Luis à noite. Gosto de fado. Não gosto de rancho, mas gosto que se conservem os costumes e as tradições. Não gosto de ouvir falar alemão, mas gosto de ouvir falar espanhol. Gosto de saber falar pelo menos umas palavras em várias línguas. Gostava de saber linguagem gestual. Gosto da mania parva que eu e o meu namorado partilhamos de fazermos limpeza facial um ao outro. Gosto da cara dele ao acordar e do cabelo despenteado. Não gosto de ter que sair da cama. Não gosto de lavar os dentes. Não gosto de oferecidas. Não gosto de rapazes que se acham altos machos latinos. Não gosto de gente que tem a mania que é mais do que na verdade é e que manda sempre tanto ou mais do que os outros quando não manda nada. Eu gosto das pessoas que percebem o seu lugar. Gosto de dedicação e de bom trabalho. Não gosto quando caiu. Gosto de me rir como uma perdida quando caiu num tombo espalhafatoso e quase de filme de comédia. Eu gosto de massajar e de mexer no cabelo dele. Eu gostava do tempo em que tinha duas irmãs gémeas. Eu não gosto, nada, de agora não ter nenhuma. Contudo, gosto de pensar que ainda consigo recuperar algum do tempo perdido com uma. Eu não gosto que faltem ao prometido. Eu gosto de me considerar uma mulher com “tomates”. Por isso, não gosto nada quando me sinto frágil e fraca. Eu gosto de brincar. Gosto de estar na minha piscina. Gosto de ir à piscina à noite.

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