imutável

(este texto é ficcional, embora baseado em alguns factos reais e
surgiu dos meus devaneios mentais numa tarde chata.)

Naquela manhã a estação encontrava-se deserta. O silêncio e a calma reinavam naquele local e o comboio tardava. O tempo parecia imutável e o comboio nunca mais chegava à estação, à nossa estação, onde eu te esperava inquieta. Tu, tal como o comboio, tardavas em chegar enquanto eu ia esperando ansiosamente por esse momento, o momento em que chegarias e decidiríamos o nosso futuro, mal o comboio efectua-se a sua habitual paragem naquela estação.
Por breves instantes fechei os olhos, vendo a tua imagem dentro de mim, vendo o teu corpo alto, esguio, bem formado, a tua tese morena, os teus olhos verdes e doces fixando-se apenas em mim, como tantas outras vezes fizeram, e o teu sorriso rasgado iluminando o teu rosto, desejando durante todo esse tempo que chegasses rapidamente, assim como te encontravas na minha imagem mental.
Abri os olhos esperançada e qual o meu espanto quando te vi. Sim, tu estavas lá, na nossa estação, mas o teu rosto já não estava iluminado pelo teu sorriso e o teu olhar já não era doce e exclusivamente meu como outrora. A minha imagem mental de ti caiu por terra e deu lugar a um rosto triste, fechado e a um olhar distante e sem a paixão que sempre nos uniu.
Com a voz fraca devido à dor de te ver assim, tão perto e tão longe do meu ser, pedi-te que viesses para o meu lado, para que, pelo menos uma última vez, entrássemos juntos no mesmo comboio e seguíssemos o mesmo caminho de sempre que nos levaria ao nosso lugar, ao nosso cantinho secreto. Porém, tu recusaste-te a fazê-lo.
O comboio chegou à linha do lado em que me encontrava. Momentos depois outro comboio chegou à linha do teu lado. Por entre as pequenas janelas dos dois comboios vi-te entrar no comboio errado.
“Errado! Não vês que é errado?! É errado o que estás a fazer! Porque foges de mim se ainda sou uma grande parte de ti? Porque te acobardas agora que o sentimento entre nós começa a crescer? Porquê?”.
Queria dizer-te tudo isto, mas não passaram de devaneios da minha mente devido ao nó na garganta que aquele turbilhão de emoções me provocou.
Os comboios partiram. Primeiro o comboio no qual deveríamos seguir e posteriormente o comboio no qual decidiste partir, tão erradamente. E eu fiquei ali parada na estação, que agora já não era nossa, observando-te partir sem sequer olhar para trás.
Sabia que se tivesse corrido no momento em que te vi entrar ainda teria apanhado aquele maldito comboio que te levava para longe de mim, contudo não o fiz. Em vez disso, permaneci naquela estação, no banco mais calmo e escondido, vendo a azáfama com que os comboios e os seus passageiros se movimentavam, até ao anoitecer. E o tempo permaneceu imutável para mim, naquela estação.

8 comentários:

  1. - uau ! estou surpreendido, qual é o talento que tu tens e que ainda me falta descobrir ? :O

    gostei de ler isto ;)


    IMA'

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  2. Obrigada (:
    quanto aos talentos não sei xD

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  3. Eu também acho que tens talento. Queres escrever uma história em conjunto? xD

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  4. Obrigada Dina (: mas não acho que esteja assim tão bem --'
    aceito Dina, vamos fazer mais um romance melado? xD

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  5. Vamos! Daqueles mais melados que marmelada. xD

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  6. E eu a pensar que mais melado que isso não dava! xD

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