Perdi a batalha. Perdi a guerra.



Se calhar é agora tempo de embalar as coisas, fazer as malas e zarpar.
Talvez tenhamos chegado a um ponto de rotura que não possui qualquer fármaco milagroso que cure ou reverta a situação.
Com o tempo aprendemos que amor é bom, amor é preciso, amor é importante, mas amor não é tudo. Infelizmente, amor não é tudo. Uma relação vive de mais, de muito mais do que amor. Talvez tenhamos perdido tudo o resto. O amor ficou. Esse ainda vai perdurar por muito tempo tenho a certeza, porque por vezes ele também pode ser cruel. Ficar, quando devia simplesmente desaparecer, sumir-se no ar, num simples e leve piscar de olhos. Levar com ele a dor de um sonho destruído num momento infeliz. Numa acumulação de momentos infelizes.
Dizem que o bom sempre supera o mau e, quem sabe, talvez supera-se. Mas só por isso temos que fechar os olhos e acreditar como se de uma realidade certa se tratasse de que as coisas más fazem parte, de que tudo o que interessa é o bom? Duvido que assim seja. Aliás, tenho a certeza que esse não é um pensamento viável. A experiência ensinou-me isso. Foi duro? Muito. Continua a ser, por sinal. Contudo, os laços invisiveis vão se desgastando aos poucos, destruindo aos poucos. As coisas más têm o mesmo efeito numa relação que o ar do mar tem nas casas que por ambição humana ali foram construídas tão perto. É tudo corrosivo, altamente corrosivo. E quando damos por ela, quando acordamos dessa realidade que afinal não era assim tão real percebemos que temos feridas demais, mágoas demais, hematomas demais, sangue demais.
O amor é como uma guerra. Ninguém a ganha sozinho. Eu estou cansada de me sentir a lutar sozinha. As balas não me atingiram durante muito tempo. Ou fingi que não. Agora atingem, agora doem e, por isso, é completamente desapropriado e até rididulo da minha parte continuar à frente delas, certo?! Dar o corpo às balas é muito bonito, mas um dia mata-nos. Essa parte de mim morreu. Eu quis que ela morresse e ela morreu. É desumano que eu esteja sozinha a dar o corpo ao manifesto. É desumano que eu tenha tantas chagas que já nem as saiba contar. É desumano que não me dêm uma medalha de prata por isso.
Cansei de me sentir sozinha nesta guerra. Cansei desta batalha desigual. Cansei.
Como diria o grandioso Fernando Pessoa, tudo o que tenho em mim é essencialmente cansaço. Um imenso cansaço que corroeu os laços que nos uniam.
Quem ama, cuida. Eu não me sinto cuidada. Quem ama, valoriza. Eu não me sinto valorizada.
Talvez seja melhor assim. Talvez. Quem poderá saber?
Se esta é uma batalha desigual, nunca poderei vencer. Nunca poderei sair daqui como o herói. Irei sempre sair derrotada, de cabeça baixa. Pela dignidade que me resta talvez deva abandonar, de cabeça erguida. Convicta de que tentei, de que fiz tudo, de que aguentei com todos os golpes que conseguia. Perdi pedaços de mim nas batalhas. Tirei alguns pedaços ao adversário também. Mas perderia a guerra de qualquer das maneiras. Desistir, nem sempre é uma vergonha. Por vezes é só uma forma de sair de cabeça erguida, com uma minima dignidade. Desisti. Vou arrumar as armas, levantar a bandeira branca e abandonar esta terra que foi minha. Tão minha. Está pronta a ser conquistada. Tentem. Talvez tenham melhor sorte que eu. Conquistem! Já que desistiram de me conquistar.

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